terça-feira, março 21, 2006

O solitário violinista Kuhn

"Seria eu, deveras, um ser inteiramente diferente de todos eles, de Marion, de Lotte, de Muoth? E aquilo seria, realmente, o amor? Eu as via todas, essas criaturas da paixão, cambalear como arrastadas pelas tormentas e flutuarem no desconhecido: o homem, torturado, hoje, pelo desejo, amanhã, pelo fastio, amando sombriamente e rompendo brutalmente, inseguro de qualquer inclinação, descontente com qualquer amor; e as mulheres, arrebatadas, suportando ofensas e pancadas, por fim enxotadas e, contudo, ainda agarradas a ele, aviltadas pelo ciúme e pelo amor repelido, numa fidelidade canina. Naquele dia, pela primeira vez, desde muito tempo, eu chorei. Chorei lágrimas de indignação e de ira por essas criaturas, pelo meu amigo Muoth, pela vida e pelo amor; e lágrimas silenciosas e secretas por mim mesmo, que vivia em meio a tudo isso como num outro planeta, que não compreendia a vida, que ardia em sede de amor e que, no entanto, devia temê-lo."

Trecho do livro Gertrud, de Hermann Hesse.

Um comentário:

Anônimo disse...

Q profundo, Dídi Jucá...
Hermann Hesse realmente é mto bom.